Um dos protagonistas do conto "Tyson: Forjado no Fogo" , o mestre "fantasma" do jovem Mike Tyson se mostra uma pessoa calma, pacífica e totalmente ciente do seu papel dentro do mundo do boxe.
Nessa entrevista, Vojik nos revela em primeira mão sua visão sobre o boxe, e quais foram as suas maiores referências e inspirações.
Boxeando com a História: Jan, muito obrigado pelo seu tempo e por aceitar conversar conosco. Os leitores do livro quando o conhecem logo se tornam fãs de você. Uma pergunta muito comum que tem é: como foi estar num ringue com Mike Tyson?
Jan Vojik: Bom, primeiramente eu que agradeço por poder bater esse papo. Sobre o Mike, bem, o que eu poderia dizer sobre ele que ainda não tenha sido dito? Em cima do ringue, sua combinação de força e velocidade eram algo raramente visto na categoria dos pesados, e por isso seu estilo obteve tanto sucesso.
BH: É verdade. Muitos também comentam porque não apareceu outro Tyson até hoje... o que você tem a dizer sobre isso?
JV: Eu acredito que Mike reuniu alguns elementos que o tornaram ímpar. O seu biotipo, por exemplo, ele já pesava quase 90 quilos com 14 anos de idade. Seu talento foi identificado cedo, aos 12. A união da sua constituição física com a forma de lutar idealizada por Cus D'Amato, o "peak-a-boo " casou como uma luva. E além disso, as questões mentais e emocionais foram propícias, Mike tinha muita fome. Muito desejo de evoluir, ele vislumbrou no boxe uma oportunidade de mudar de vida, e se dedicou a isso de corpo e alma.
BH: Certo. Nos fale agora sobre o mentor de Tyson. Cus D'Amato. O que você poderia adicionar sobre esse homem?
JV: Cus como ser humano era único também. Um poço de contradições, uma pessoa que tinha o carisma, o magnetismo dos grandes líderes. Cus era daqueles que a todo o momento te ensinava alguma coisa, mesmo sem ter a intenção. Guardo com muito carinho a época em que pude estar perto dele.
BH: Como a influência de Cus sobre Tyson foi determinante para o seu sucesso?
JV: Cus já era um cara na reta final de sua vida. E ele passou a vida inteira esperando alguém como Mike aparecer. Quando Mike surgiu, toda a experiência de vida de Cus foi passada para ele. O sentimento era de que se fosse possível, Cus abriria literalmente a mente de Mike pra passar todo seu conhecimento pra ele. O legal é que Tyson confiava plenamente nele, absorveu tudo como uma esponja. Ele seria capaz de matar por Cus. Sem pestanejar, tamanha era a lealdade que o jovem Mike tinha para com seu tutor. Uma união dessas, tão rara, e com o talento dos dois, tinha tudo pra dar certo. A sintonia que existia entre o mestre e o pupilo foi sem dúvida o segredo do sucesso. Eles eram obcecados por boxe. Respiravam isso 24 horas por dia. Eram totalmente focados no seu objetivo.
BH: Você também tem uma parcela de responsabilidade nisso não é? O que você pôde fazer pelo jovem Tyson?
JV: Ah, na realidade nada. Eu não ensinei nada pro Mike. Ele estava pronto. Meu papel foi apenas ajudá-lo a encontrar algumas respostas e ter uma noção exata da consequência de suas escolhas.
BH: Como assim?
JV: Nós conversamos bastante. Uma coisa que quis deixar bem claro pra Mike, era que os grandes campeões, os que estão no "Panteão", na prateleira das lendas, todos eles sabiam qual história iriam escrever nesse esporte. Veja bem, Muhammad afirmou que era o "Maior". E suas ações dentro e fora do ringue comprovaram isso. Jack Dempsey sabia que sua história era tornar o boxe o esporte mais popular de sua época. Então, quando se sabe qual história você quer escrever no esporte, você está mentalmente preparado pra superar qualquer obstáculo. Você não acha que se Ali não acreditasse que ele era realmente o melhor de todos, ele teria dado prosseguimento à sua carreira após o exílio forçado? Depois de 3 anos e meio parado, poucos acreditavam que ele poderia lutar em alto nível de novo. Quando perdeu para Frazier, todos haviam decretado o fim da sua carreira. Mas sabendo que ele escreveria sua história como o "Maior", com certeza ele teve a disposição de continuar e provar que os críticos estavam errados.
BH: Jan, e porque na época, ninguém além de Cus tomou conhecimento da sua existência?
JV: Ah, pra saber isso, só lendo o livro 'Tyson: Forjado no Fogo'. Mas garanto que vale a pena a leitura.
BH: Certo, então vamos falar sobre suas influências e inspirações. Quais os boxeadores que você mais admira?
JV: Do pessoal das antigas, eu diria que Muhammad Ali e Archie Moore. Assim como Tyson, Ali era incomparável e conseguiu fazer uma mescla surreal de luta e arte. Alguém do seu tamanho se movimentando de forma tão fluida e graciosa é algo pra realmente se admirar. E Archie Moore pela sua técnica, perspicácia e inteligência dentro do ringue.
BH: E o pessoal mais recente?
JV: Bom, Tyson por motivos óbvios,...(risos), os orgulhos da Ucrânia: Lomachenko e Usyk, e Evander Holyfield. Mas tem dezenas de boxeadores memoráveis que são de encher os olhos. Mas esses que citei são os que mais me chamam a atenção.
BH: Jan, você poderia citar 5 lutas que você considera inesquecíveis para recomendar ao pessoal da página?
JV: Eu gosto de listas. Mas assim de surpresa fica complicado... mas vamos lá. Eu escolheria : Archie Moore versus Ivon Durelle 1, Evander Holyfield versus George Foreman, Muhammad Ali versus Joe Frazier 1, Rocky Marciano versus Jersey Joe Wallcott 1 e Arturo Gatti xMicky Ward 1. Todo fã de boxe precisa ver essas lutas.
BH: Ótimas recomendações Jan. Tenho certeza que quem ainda não viu deve parar tudo o que está fazendo agora e ir assisti-las. E muito obrigado também por poder conversar conosco.
JV: Foi um prazer. Finalizo fazendo o convite para que leiam 'Tyson: Forjado no Fogo' e se já leu e gostou, peço a enorme gentileza de que recomendem para os amigos.
***JAN VOJIK É UM PERSONAGEM FICTÍCIO PRESENTE NO LIVRO 'TYSON: FORJADO NO FOGO'.